choque de gestão

Tuesday, February 27, 2007

Assombrada

A diferença entre "home" e "house". Eu não tenho lar, embora more numa casa que eu ame demais. E isso é muito, considerando que fiquei homeless, morando numa sacola quase. E lembrar desse tempo é começar a chorar. Como agora. Sem lar, com casa e com muitos medos. Um deles é de ser atacada no meio da noite por um grupo de criminosos que escalaria os seis andares do meu prédio e me pegaria pela varanda, tão perto da cama. É o efeito João Hélio, "Veja", William Bonner. Outro medo é da escuridão do hall do meu andar, que à noite só tem a mim como moradora. Eu sempre tive medo de ficar sozinha no escuro total. Medo de não poder me defender. Medo de gritar e ninguém ouvir. De não ter para quem ligar. Eu choro, soluço _e ninguém ouve. Eu tenho medo de fantasmas. Dos que nunca se vão. De ficar cicatrizada para sempre. De falsos começos. De não acreditar. De apostar alto. De ser alvo de aposta alta. Agora eu tenho medo. Não vou baixar a guarda, minha amiga. A diferença entre lar e casa é que o lar traz segurança. Eu não estou segura em casa, não fico longe dos fantasmas ou das lembranças ruins. Minhas fontes de proteção estão nos braços que ficaram lá longe, em alguns amigos, na minha família. Tudo fora do meu lar, que não é lar. Eu tenho medo da distância e da proximidade. Eu tenho medo do teu futuro e do meu passado. Mas ainda é hoje. E hoje ainda me resta peito para dizer que a tua coragem e a tua lucidez estão me fazendo falta. E isso é todo dia agora.

Thursday, February 22, 2007

De frente pro mar

E se a vida fosse assim, de frente pro mar?
Estariam lá a areia para te sujar, as ondas para te derrubar, as algas para manchar de marrom o azul do céu e o verde do mar.
Mas, de frente pro mar, quase nada importa. É o barulho que te faz acalmar, é o infinito que te faz imaginar, é a maré que sobe para te mostrar que a vida não passa de um vai-e-vem.
Dia e noite, vai e vem.
E desse vai-e-vem surgem as descobertas, as surpresas que nem você e nem o mais treinado dos pescadores pensaram em achar.
Maré baixa, e os barcos atracam na areia, longe da água. Tombados. As pedras, aquelas que podem ferir os teus pés de barro, se exibem durante a manhã, mas se escondem mais pra tarde, quando o mar volta a avançar. Elas estão lá. E você pode cair se não desviar.
É da maré cheia, da opulência das águas, que transborda toda a novidade. Escurece, e o reflexo da água fica mais próximo. O reflexo que faz ver tanto de você em mim. Que me faz ver nova.
Que mostra tua imagem olhando para a minha.
Se a vida fosse assim, de frente pro mar, eu te diria todo dia que a chuva que cai, apagando o sol, vem para refrescar, para fazer florir e nunca para te privar.

Thursday, February 15, 2007

Top 5

Os cinco maiores mistérios da minha viagem ao Ceará:

1 - Meu pai vai me levar para Cumbica
2 - Nenhum dos meus 7 melhores amigos cearenses estará lá
3 - Conheci meu acompanhante durante um furto
4 - Passarei 5 dias ao lado de uma pessoa que vi 3 dias
5 - Não faço idéia de onde dormirei na primeira noite

Friday, February 09, 2007

Eject, pausa, play

Nunca é como prevemos. Óbvio. Não é tudo aquilo que parecia ser. Acabou, mas é diferente dos outros que também passaram. Sem que o futuro venha a ser similar. Distância, estranhamento, indiferença, gentilezas forçadas. Desconheço. Nunca conheci, pensando bem. Farsa.

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Ao contrário, sinceridade que não acaba. A verdade está voltando. Sim, nos comunicamos bem, mas não, não parece. Também não é só isso, ele diz. É mais do que volúpia, é cumplicidade, a mesma que une os criminosos. "Vocês já se conheciam?" Os olhares respondem. Pausa.

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Veio para mudar tudo, até minha auto-estima, lá nos céus agora. Veio, me olhou, lá do alto. Mandou um elogio logo de cara. Eu não sou daqui. O melhor de resistir é ceder. Verão com todo o jeito de primavera. O céu é laranja e dele não cai chuva. Entre, sente e se espalhe em mim.

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Da maior aventura, nada me assusta. É um presente, eu sei _e vou aceitar. Do desconhecido, tiro a expectativa mais otimista. E nem é tanta. O encaixe que mais me seduz é aquele nicho entre o ombro largo e o braço tatuado. No meu ouvido, o que eu quero ouvir. Play.

Sunday, February 04, 2007

Sobre amigos e más notícias

Eu fico assustada com dias assim. Um dia tão bonito e tantos amigos tristes, tantas más notícias. Recebi duas ligações de pessoas de turmas diferentes chorando. Uma tinha terminado o namoro que quase chegou a ser um casamento com festa e tudo. Estava ruim, ela já se lamentava, e acabou. Ligou, chorou e ouviu de mim coisas que ela mesma me disse há seis meses _basicamente: "vai passar".
Horas depois, ainda num dia lindo, ensolarado, outra amiga me liga chorando. Dessa vez, muito mais grave, ela dizia que o pai de um amigo muito amigo nosso havia morrido. Bem que a gente notou que ele, o amigo, estava sumido no fim de semana. E do nada acontece isso. E foi minha vez de ligar para o amigo, que soava triste, mas tranqüilo. O que dizer? O que fazer? Nos unimos, ainda mais, nas perguntas silenciosas que ainda ficam sem suas respostas.
Quase ao mesmo tempo, outro amigo muito querido me diz que está triste, sozinho, longe, querendo desistir. Eu poderia, por puro egoísmo, dizer para ele voltar e, assim, iríamos retomar nossa rotina de champanhe, piadas, conversas sérias. Mas não. Disse para ele ir em frente, que o começo é sempre ruim, mas que era um desafio incrível e que ele tinha que enfrentar todas as mudanças desse período.
E tudo num dia em que acordei pensando em amizades, lembrando que meu ex-namorado fez a gentileza de convidar todos os meus amigos (e eu não, claro) para a sua festa. (Como disse um partidário meu: "Fulano está fazendo uma campanha agressiva para te isolar no Brasil".) Enfim, não me importo com o convite, com quem foi e quem não foi, porque sei quem são meus amigos, sei que eles contam comigo quando precisam, assim como sempre fiz com eles. Isso, sim, importa.

Thursday, February 01, 2007

Show da Virada

E assim, do nada, minha analista me dispensou. Me deixou ser presidente da minha própria saúde mental, me disse que estava tudo bem, que as escolhas estão sendo feitas, que os resultados, processados. "Te vejo quando você precisar." Alta hospitalar, já ouviu falar?

E assim, do nada, me preparei, me concentrei como há muito não fazia, senti prazer ao estudar, ler, falar. Não fiz feio. Impressionei? Talvez. Meu público fala inglês, tá decidido. Meu cabelo não fica bom no Brasil _e nem o dele. "Why do you wanna leave this marvelous country?" Eu: "Que Brasil?".

E assim, do nada, passou, passado. Tão bom! Eu sei escolher. E sei desistir. Sempre com elegância, é claro. Fui recompensada com um belo presente. Eu mereço. Frio na barriga e adrenalina com as lembranças _eles voltaram!

O Show da Virada apenas começou.