choque de gestão

Wednesday, May 09, 2007

As grandes coberturas

Foi quando eu estava quase desistindo do jornalismo impresso diário que duas grandes coberturas vieram me recativar. Digo "desistindo" e já corrijo meu exagero _não estava desistindo, estava só entediada com a falta de notícias ou com o excesso de manchetes policiais. Mas aí vieram a morte do meu empregador supremo e a visita do Santo Padre e tudo voltou a fazer sentido (por mais alguns meses).
O assunto, na verdade, pouco importa. Pode ser uma OP monstruosa ou igreja, um escândalo ou a visita do Bush, a eleição presidencial ou só para a Câmara mesmo. O que interessa é a gritaria.
Quando o assunto é previsto, a movimentação começa meses antes. É pensar no caderno especial, no tamanho dele, na equipe que vai fazê-lo, nas credenciais, em planejar a cobertura nos dias do tal acontecimento; é participar no que, de fato, vai ser lido dentro e fora da Redação.
Sem planejamento ou não, quando estoura o caos é certo. São muitas pessoas envolvidas, muitas páginas a preencher, muitas fotos para escolher, muitas ordens a seguir, muitos chefes para obedecer, muitos detalhes que podem ser fatais.
O começo cabe ao pauteiro e aos repórteres. O primeiro delega e combina, os demais deveriam voltar com histórias _o que nem sempre acontece. Dois colam no presidente, outros dois, no papa, um checa o trânsito; tem que ter um para acompanhar o público, outro para ver a cobertura da TV, um para bastidores, curiosidades _"O sapato é Prada ou não?"_, repercussão com tudo o que se mova.
Na Redação, cada um cuida de uma coisa. Os infográficos têm que ser logo pensados e repassados à Editoria de Arte. Os artigos precisam ser encomendados, medidos e, quando preciso, cortados, sempre de acordo com quem assina. O mesmo é feito com os colunistas fixos. O multímidia (coisa meio provinciana, aliás) sempre tá nas grandes coberturas, assim como as íntegras dos discursos. E são metros e metros de textos, que precisam ser lidos, fundidos, cortados, titulados, corrigidos e reescritos. Fotos que precisam de legendas descritivas e sem repetições, evitando o clássico "O tenista brasileiro Gustavo Kuerten segura sua raquete em Paris". Aliás, o comum é ser criado o nobre cargo de "editor de legendas". Os chefes se multiplicam, assim como as ordens, nem sempre em consonância. Cada um pede uma coisa, e é preciso se defender do excesso de tarefas, porque se não fechar por causa da sua arte você vai ouvir gritos, quase nunca publicáveis. Tem o lidão, as notinhas, as estrelinhas, a "memória", o "saiba mais", a "análise", o navegador, o chapéu centralizado no alto da página _tudo que precisa ser pensado.
Tudo _tudo mesmo_ tem de passar pelo nobre ato de "desembargar", a maior chatice de qualquer grande cobertura. É quando um texto precisa ser lido por toda a hierarquia do jornal, do chefe imediato ao chefe supremo, que dá "ok" (ou não) e faz a ordem voltar ao subordinado mínimo. Esse percurso pode demorar horas.
No meio de tudo isso, vem a parte predileta: os comentários. São variados, maldosos, plurais e apartidários. Sai pra todo lado: do presidente ao rabino, do governador (sim, do governador também!) ao apresentador de TV, do senador lesadão a alguém do jornal. Adoraria contar algumas aqui, mas elas ficam restritas às mesas de bar. Por enquanto.

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