choque de gestão

Monday, August 06, 2007

Um Belo Romance

A nova comédia dos sexos


Por David Denby*
Da New Yorker


A barba dele é casual e involuntária. Ele veste moletom, shorts e camisetas ou anda por aí com a camisa para fora como se ela fosse a língua de um cachorro cansado. Ele tem quase 30, mas pode ser um pouco mais novo. Ele passa muito tempo com os amigos que são como ele, só que um pouco mais -- jovens homens dóceis de boca suja, cabelo desarrumado e fãs de revistas pornográficas. Quando ele está com eles, latas de cerveja amassadas e pontas de baseado ficam pelo chão como cascas velhas; sozinho, enterrado no sofá como uma morsa, ele vê futebol, basquete ou beisebol na TV ou passa o tempo relembrando sua juventude -- pensando em filmes antigos, jogos e piadas. Como seus parentes sessentões, ele milita contra grandes corporações, mas não é um hippie (sua cultura é pop). Ele está mais para um aluno mal-humorado do fundão, que tem surtos de tiradas brilhantes, mas só quando está a fim. Ele pode comandar um sebo de disco, conduzir city-tours sem parar de falar, alimentar animais que depois o cumprimentam com suas nadadeiras, dar aulas numa escola onde ele possa ser amigo de todos os alunos ou ainda fazer um site na Internet que ninguém precisa. Não importa o que ele faça, dificilmente vai pegar no pesado. E, às vezes, ele não faz nada mesmo.

Ele pode não ter uma namorada, mas definitivamente gosta de mulher -- ele é inclusive, em alguns casos, um típico hetero, saindo com turistas ou mães solteiras famintas por sexo. Mas se ele tem namorada, ela dá duro. Normalmente, ela tem a mesma idade que ele, mas parece mais velha, como se a disparidade entre meninos e meninas na oitava série tivesse sido recapitulada 15 anos depois. Ela veste Donna Karan, Ralph Lauren ou coisa parecida; ela é uma executiva, advogada, trabalha em TV, relações públicas ou numa galeria de arte. Ela é paciente, sincera, bonita e séria. Ela quer avançar ao "próximo estágio da vida" -- sossegar, casar e talvez ter filhos. No entanto, apesar de estar se dando bem, ela não tem uma idéia na cabeça e não é ela quem faz as piadas.

Quando ela termina com ele, ele conversa sobre a situação com seus amigos desesperados, que dão a ele conselhos misóginos. De repente, é o fim da juventude para ele. É uma crise para ela também. Eles podem voltar somente se ambos se comprometerem com algumas mudanças drásticas: ele precisa ser mais responsável (arrumar um emprego, cuidar de uma criança), ela precisa fazer algo louco (cruzar correndo um campo de beisebol durante uma partida, contar uma piada).

Ele precisa se esforçar, e ela precisa relaxar.



*Trecho de artigo publicado em 23.jul.2007; tradução Choque de Gestão

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