choque de gestão

Tuesday, October 31, 2006

Não esquecimento 2

Do não esquecimento, como disse a melhor. Os pais e suas expectativas, suas perguntas fora de hora. Suas boas intenções. "Eu fiz tudo por você." Ela se vê em mim, e eu não me vejo nela. Todo conflito reside aí. Eu não ter construído NADA em um ano _nem com ele e nem para mim_ a entristece, como a mim. Eu me gosto singular. Ela, não.

***

-- E o Fulano?
-- Sei lá. Acho que tá bem, sei lá.
-- É, não era para dar certo mesmo. Pensa assim.
-- É.
-- E o Ciclano?
(Esse almoço não acaba nunca?)
-- Vai casar no ano que vem, está superfeliz.
-- Com aquela moça?
-- É, com ela.
(Eu vejo a sua cara de decepção.)
-- Eu acho que, da próxima vez, você tem que pensar em casar. Casar mesmo.
-- Isso é uma realidade tão distante quanto improvável.
-- Você que pensa.
-- ...

Sunday, October 29, 2006

sobe e desce

crying in the rain:
Geraldo Alckmin
Roseana Sarney
Osmar Dias
Olívio Dutra

singing in the rain:
Luiz Inácio Lula da Silva
Jackson Lago
Yeda Crusius
Roberto Requião

Os fios

De longe,
O que ela quer
É fazer o tique
dele. Nele.

Hoje tem notícia

Dia de notícias, mesmo que elas sejam previsíveis. Gostoso estar assim na Redação. Todo mundo excitado, procurando saber o que está acontecendo e o que vai acontecer. Tem exceções. Meu colega aqui da frente acaba de disparatar: "Chato, hoje. Não tem futebol". Porra, caralho, tem eleição! A Globonews também parece não se importar: reprisa agora uma entrevista do Chico Pinheiro com a ALCIONE. Tá, tudo bem que aqueles flashes do TSE são chatos e nunca dizem nada de novo a não ser "328 urnas já foram substituídas". Mas Alcione não dá.
Ainda sem muito o que fazer, reparo que boa parte da chefia veste vermelho. Curioso. Talvez seja um disfarce! Onde fui votar não tinha ninguém de vermelho. Também não tinha santinho. As pessoas estavam de mau humor por estarem lá nesse dia tão bonito... Eu fiquei de mau humor por ter de ficar no trânsito UMA HORA para votar. É que a minha seção fica no Brasil profundo, na longínqua Serra da Cantareira. Tive que acordar mais cedo. E tava meio bêbada ainda.
As coisas só vão esquentar aqui na Redação umas 17h e pouco, mesma hora em que a Globo começa a divulgar as bocas-de-urna dos Estados. A da eleição presidencial só sai às 19h, por causa da porra do Acre. (Que Estado inútil!) Será que vai ter alguém na Paulista? Pouca gente, acho. Não dá muito para comemorar, mesmo para quem decidiu deixar o homem trabalhar por mais quatro anos.

Friday, October 27, 2006

Força do povo elege Lollo de novo

Não, não adiantou dizer que Lollo vai privatizar a Amazônia, que o Lollinho fez lobby em Brasília, que o Lollo não disse de onde veio o dinheiro, prometer que vai vender o AeroLula para construir cinco hospitais. Não adiantou o nosso ex chamar o sucessor de "demônio".

A força do povo elegerá Lollo de novo.

A força do povo e a incompetência adversária. Desconfio que 52% da culpa pelo desastre que foi a campanha do chuchu neste segundo turno é do marqueteiro do PSDB. Passou três semanas na TV repetindo os 19 hospitais, o Bom Prato, o Dose Certa, as 225 mil casas populares. Chamou o povo de "povão". Não provou que o jeito dele era diferente. Ao contrário: "não vou privatizar" e "vou melhorar o Bolsa Família". Lollo também.

O tucano repetiu programas demais, exibiu um jingle novo de péssimo gosto, não trouxe quase nada de inédito para a reta final. Mentira: trouxe um depoimento da dona do Pão de Açúcar e um bom flagra, das pessoas que recebem o BF com o mesmo cartão do Bolsa Escola, do nosso ex. Foi bom, mas veio tarde e foi incrivelmente mal explorado. Lembro que o segundo turno de 2002, com o grande senhor atrás, começou com a mãe da Clarinha dizendo que tinha medo. É tudo ou nada.

No último dia, repetiu o programa da noite de quinta. Enquanto isso, Lollo faz embaixadinhas na TV. Depois de um programa só para as mulheres, veio hoje agradecer os votos e dizer que o segundo turno foi a melhor coisa que poderia ter acontecido para o país.

Para o chuchu, não deve ter sido assim tão bom. Seu desânimo vai aumentar ainda mais se, conforme algumas previsões, terminar o segundo turno com menos votos do que teve no primeiro, fato inédito para um presidenciável brasileiro. Volta para Volta. Oops, para Pinda.

Wednesday, October 25, 2006

De quem é a pipoca?

"Nunca pedi nada a vocês, meu povo do Maranhão. Por favor, votem em Roseana." Esse foi o Lollo ontem, desmemoriado do que já falou do pai da senadora. (Lembrando que ela é a mesma que acusa o grande senhor de estar por trás da batida da PF que apreendeu R$ 1,34 milhão na empresa do seu marido, em 2002, e que arruinou sua candidatura.)
Lollo já chamou o senador-pai de "grande ladrão" e disse, no comício das Diretas, que se o peemedebista disputasse a Presidência seus votos "não dariam para encher um penico". Vinte anos depois ele viu que não é bem assim.

(...)

Minha troca de insultos predileta, no entanto, é entre Lollo e outro peemedebista, seu neo-amigo Quércia. Foi em 1994. O ex-governador, então candidato ao palácio, começou:
-- O Lula nunca dirigiu nem um carrinho de pipoca
E ouviu:
-- É verdade que nunca dirigi um carrinho de pipoca, mas também nunca roubei pipoca

Hoje eles comem pipoca juntos.

Tuesday, October 24, 2006

Reticências

Uma, duas, três cervejas,
Dois segredos, um meu, outro seu.
Uma pergunta, um poema.
Uma, duas, três taças,
Duas mãos, mais chopes.
Calma, muita calma.
Uma varanda, duas, três palavras.
Uma garrafa, um DVD,
Outra garrafa, um não.
Uma festa, surpresa,
Uma cena, um coração partido.
Um livro, um envelope.
Um almoço, dois amigos,
Uma conta e quatro bombons.
Chuva, frio, muito calor.
Uma pausa, um convite,
Uma viagem, duas taças,
Uma sala, uma música.
Duas histórias, a minha e a sua.
Existem amores assim?

Novo mandato

Depois do Lollo, sou a pessoa que mais espera a eleição acabar. Enquanto ele pensa no segundo mandato, nos aliados, nos ministérios que terá de ceder, na oposição furibunda que irá encontrar nos próximos meses, penso no meu primeiro mandato. Sim, a partir de novembro, serei presidente da minha própria vida. Ansiosa, como ele. Ele tem que manter tudo ou melhorar. Não pode cair. Quer ser melhor do que o nosso ex. Eu preciso construir. Preciso pensar onde vou morar. Comecei a ampliar as possibilidades. Por que São Paulo? Essa cidade é uma fraude com a qual convivo por 27 anos. Mesmos lugares, mesmas turminhas, mesmos trabalhos. Não é à toa que meus amigos mais próximos atualmente são cearenses e cariocas. Eles trazem novidades. Não precisa ser definitivo. Nada é limitante. Só o dinheiro. Serei bem recebida no Rio, se optar. Ansiosa para começar. Minha casa, minha cama. Sem você, sem ele, sem eles. Minha toalha, minha geladeira, meus CDs. Meu barulho. Meu horário. Minhas contas, meus ministros. Novos ministros. Será um bom primeiro mandato. Sem oposição.

Sunday, October 22, 2006

O concreto e o incerto

Hoje não tem política. Eu nunca prometi que aqui seria um espaço só sobre política. Tanto é que o outro nome pensado era "política com champanhe", a combinação ideal para uma noite agradável. Então, em vez de política, decidi me apresentar. Sou uma mulher de 27 anos. Eu ia escrever uma "menina". É que eu tou bem na transição, acho. E minha analista acha que preciso me "assumir como mulher, sair da posição de menina". Eu sempre achei feio pessoas que começam frases com "minha analista acha...". Mas ela acha. E ouvi isso de outra pessoa. Então, sou uma mulher. Além da idade, a única outra informação concreta que posso dizer é que eu trabalho. Fora a idade e o trabalho, tudo está incerto. Eu trabalho na editoria de política de um grande jornal. No começo, eu achava isso o máximo. Ontem mesmo um amigo de um amigo disse na mesa que nós, de lá, não tínhamos noção de como isso era importante. Bom, naquela mesa, ninguém mais acha tão genial assim. Eu trabalho muito, por muitas horas, por muitos dias e ganho mal. Fora outras coisas, digamos, ideológicas. Eu trabalho lá faz quatro anos e meio. Uma vida. Gosto muito de política, dos PMDBs, dos escândalos, mas detesto índios e quilombolas. Já namorei duas pessoas lá dentro, entre outros flertes. Hoje eu não namoro ninguém, nem lá e nem fora de lá. Estou solteira pela primeira vez depois de adulta. Tá, depois dos 20 anos. Eu já fui casada uma vez. Durou três anos. Não foi horrível. Só no final. Eu comecei a fazer análise para conseguir me separar. Mas aí eu conheci um menino e me separei rapidinho. E ficamos um tempo namorando, quase moramos juntos. Mas também nos separamos. Aquela coisa: levar as roupas embora, chorar, separar os CDs, os livros, as lembranças, os amigos... De novo. Foi bem triste. Mas está passando. O meu chefe, na minha primeira separação, me disse que o tempo era fabuloso nessas horas. É verdade. Os meses vão indo e vão levando as coisas pro passado. É mágico mesmo. Eu não tenho namorado, mas eu considero ter os melhores amigos do país. Não é exagero. Porque eles são cariocas, cearenses, paulistas e paulistanos. Meu núcleo duro é formado por dez amigos. Nesse bolo, há amigos antigos, do tempo de colégio, e outros que conheci recentemente, de uns dois anos para cá. Dentro do núcleo duro, tem o núcleo político, que são os amigos que sempre falam de política. Todos nós votamos no Lula. Votamos e votaremos no domingo. A gente não acha que o Lula é inocente, mas a gente vota nele mesmo assim. É que, acima de tudo, a gente não vai com a cara do PSDB. Tem também o núcleo dançante, que tem alguns membros do núcleo político. São os que sempre saem para dançar e conhecem as músicas novas, novíssimas. A gente tem ido muito ao Milo. Lá é legal, dá para dançar e cantar todas as músicas sem gastar muito. Tenho muitas histórias de lá. Fora o Milo, eu vou muito aos bares. Tem fases de Filial, Sujinho, Mercearia, Exquisito e outros. Eu tenho bebido muito ultimamente. Acho que é por causa da segunda separação. É que eu passei a ter insônia e só consigo dormir bêbada. Eu também gosto muito de comer. Bem, de preferência. Como eu como pouco em casa agora, eu tenho ido a muitos restaurantes. Fui a uns franceses ultimamente, Brasserie Paulista, Paris 6, Lola Bistrô e La Tartine. No almoço, eu como fora também, ali perto do grande jornal. Mas não é nada espetacular. Vale a pena por causa das conversas com amigos do núcleo duro. Além de beber, eu tenho outros dois minivícios. Mas nada grave. Eu tenho família. Ela é um pouco estranha, meus pais são separados e não se falam, eu tenho alguns irmãos por aí, minha mãe vota no Alckmin, meu pai já se casou quatro vezes, eles não sabem direito como é o meu trabalho. Mas nos damos bem, com algum esforço. Acho que é sempre assim. Em geral, sou bem-humorada e simpática. Em geral. Mas eu sou muito específica, diz uma amiga, a melhor. Eu gosto mais de quem tem humor qualificado. E gosto menos de pessoas politicamente corretas, que são, quase sempre, contraditórias e chatas. É que eu não sou politicamente correta. Mas não faço maldades. Sou uma boa cidadã, não jogo lixo na rua, respeito as pessoas, os pedestres, os idosos, as filas. São poucas as coisas de que não gosto fortemente. Gatos e hippies são duas delas. Tem muita gente que não vai com a minha cara, por variados motivos. Quase sempre quem não gosta de mim é correspondido, é aquela coisa de não bater, sabe? Desimportante, considerando que tenho os melhores amigos do país. Isso também é concreto, fora a idade e o trabalho. O resto é totalmente incerto agora.

Friday, October 20, 2006

Jaquetinha estatal

A eleição deveria ter acabado no dia 2 de outubro. Esse é o pensamento secreto do chuchu. Lá, naquela segunda-feira, ele tinha 40 milhões de votos, havia levado o PT para um segundo turno inesperado, obrigado um Lollo abatido a dar sua primeira entrevista coletiva como presidente, inflado dentro do PSDB e da política. Era um vitorioso mesmo que perdesse. Vinte dias depois, sua candidatura já virou exemplo nos manuais do que não fazer num embate a dois.
Na próxima edição de "Como Vencer uma Eleição", o chuchu irá ilustrar com a sua foto da jaquetinha estatal o verbete sobre "erros evitáveis":

"1) Não posar para fotografias recebendo o apoio de um casal de políticos nefastos, que, desde uma greve de fome patética, estão rumo ao ostracismo. Que estão envolvidos em desvio de dinheiro público, que estarão sem mandato nos próximos quatro anos, com popularidade em queda livre no Estado onde antes dominavam;
2) Não aparecer no primeiro debate entre os dois como um novo candidato, agressivo, falando alto, apontando o dedo para um homem que se recusou a chamar de presidente. Surpreendeu tanto, que o eleitor não entendeu e o tachou de 'autoritário' na pesquisa seguinte. O eleitor, diz o Iuperj, sabe ver atitudes desesperadas e forçadas;
3) Não falar nesse mesmo debate, ao vivo, em rede nacional, que 'estão espalhando boatos de que ele vai privatizar estatais'. Acusou o golpe, como dizem, na frente de telespectadores que podiam nem saber dos tais 'boatos';
4) Não entrar na agenda imposta pelo adversário e passar dez dias negando em todas as manchetes que não vai privatizar nada. Caiu certinho na armadilha de ligá-lo ao nosso ex. Teve que responder tanto às acusações do lado de lá que ficou sem espaço para perguntar 'de onde veio o dinheiro?';
5) Não usar 20 minutos diários na TV para mostrar todo dia as mesmas obras num único Estado ('19 hospitais, 225 mil casas populares, Dose Certa, Bom Prato');
6) Não chamar o 'povo' de 'povão' repetidas vezes na TV. Ainda mais quando o adversário usa o slogan 'o presidente do povo'. Povo é povo, ok. 'Povão' é só um jeito arrogante de se referir ao amontoado de gente espremida dentro do ônibus Santo Amaro às 6h45;
7) Por fim, porque foi aí que a eleição acabou, NÃO usar uma jaqueta cafona com logotipos das estatais que não vai privatizar. Não usar, não sair na rua com ela e, claro, não posar para fotos sorrindo dentro dela. Seria como Lollo sair às ruas com uma camiseta 'diga não ao mensalão'. Tiro na cabeça, diria aquele prefeito".

Com uma campanha assim e com mais uma semana de eleição, chuchu tem chance de ocupar outro verbete do mesmo manual _estará lá como o primeiro presidenciável do país que viu sua votação diminuir do primeiro para o segundo turno.

Tuesday, October 17, 2006

Um dia de gedimar

Cada partido tem o aloprado que criou. Uns dão tiros nos próprios pés, falam o que não sabem, agem nos subsolos, freqüentam o Ibis (R$ 99 a diária, com café), são desautorizados pelos chefes depois. Outros parecem qualificados, "doutor honoris causa", circulam pelas colunas sociais, bebem conhaque de R$ 900 a dose, são chefes de si mesmo.
Ao dizer "não sou contra a privatização da Petrobras", nosso ex atirou no pé do chuchu, acusado todos os dias de que vai vender o Brazil, incluindo a Amazônia. Depois de ganhar todas as manchetes, deixar o colega em posição fetal, nosso ex quase se repetiu: "Esqueçam o que eu falei". E divulgou a pérola:

"Um cacoete de linguagem, de minha parte, e uma transcrição imprecisa da entrevista que dei hoje pela manhã à rádio CBN deram origem a um mal-entendido sobre minha posição quanto ao controle da Petrobras e do Banco do Brasil. Minha posição é clara: estas empresas devem ser públicas. (...) Perguntado sobre a onda de desinformação e terrorismo eleitoral em torno do assunto das privatizações, declarei textualmente: 'Isto é demagogia. Ninguém vai privatizar a Petrobras. Eu disse isso quando foi feita a lei (que flexibilizou o monopólio estatal no setor). Eu mandei uma carta ao Senado. Eu não (e aqui caberia a vírgula ou o ponto e vírgula que ficou faltando para dar sentido à frase), sou contrário à privatização da Petrobras'".

Ok, tudo bem. Todo mundo tem seu dia de gedimar. Mas nosso ex, belo conhecedor das regras de pontuação, esqueceu de pedir desculpas quando deixou de convidar o chuchu para jantar no Massimo, quando retirou seu exército da campanha e quando, às vésperas do primeiro turno, criticou a política de segurança em São Paulo, dizendo que construir presídios não adiantava. Ao mesmo tempo, seu candidato anunciava seus 75 presídios de segurança máxima, RDD, CSI, Beira-Mar.
A julgar pelo histórico, nosso ex, ele mesmo, vai distribuir por aí: "Com o chuchu, a gasolina vai subir".

Monday, October 16, 2006

O presidente do povo

Em algum dia entre 27 de outubro de 2002 e 1º de janeiro de 2003, Lollo decidiu que era hora de uma comemoração mais parecida com ele, o novo presidente, o presidente do povo. Afinal, depois de três eleições frustradas, ele não queria que a festa fosse só aquela garrafa de Romanée-Conti, R$ 8.500 à época.
Lollo sugeriu, então, que queria uma festa a seu modo, com a sua verdadeira turma, num lugar que fosse a sua cara. E foi assim mesmo que os amigos organizaram o churrasco. Com boa carne (não está confirmado se Lorenzetti já era o churrasqueiro informal que se tornou no Torto), boas bebidas _não mais do que cerveja, cachaça e refrigerante_ e boa companhia. Foram todos: petistas, sindicalistas e abecedistas, que, corretamente, encheram o eleito de presentes. Era o Partido dos Trabalhadores no Poder, enfim.
Marcado para um domingo, ali mesmo, em São Bernardo do Campo, o encontro pró-Lollo atraiu, obviamente, a atração dos jornalistas, incluindo os da mídia golpista, que naqueles meses de transição tentavam não deixar nenhum passo do presidente sem ser noticiado.
Churrasco, com os amigos, no ABC eram ótimos motivos para passar o dia na porta do sobrado que abrigava o homem. Aliás, muito melhor do que ficar na frente do prédio dele, na vizinhança.
E lá ficaram, sob sol e chuva, durante algumas boas horas. Até que algum petista, muito sensibilizado, permitiu que os pegajosos entrassem no sobrado. O combinado: sem câmeras, bloquinhos e gravadores, poderiam ficar no térreo, um andar abaixo de onde estava o homem. Aceito. Como o futuro chefe da nação, beberam, comeram e até cantaram versos do Zeca Pagodinho que rolava lá em cima. Eram as nossas fontes no poder. Enfim.
Com tanta festa, quase perderam quando, horas e horas de churrasco depois, Lollo apontou no topo da escada rumo ao térreo. Vermelho, suado, alegre. Feliz da vida, exibia no próprio corpo alguns dos presentes que havia ganho: uma camiseta da seleção (oficial), um chapéu de vaqueiro (oficial) e uma bola de futebol (oficial) debaixo do braço direito. Descendo as escadas com a precisão de um trapezista, foi acompanhado pela primeira-dama eleita, Marisa Letícia, que vinha logo atrás.
Muito feliz, mas muito preocupada, Marisa ainda aconselhou o marido a deixar a bola lá mesmo e se apoiar no corrimão. "Não, eu vou levar." Marisa nada falou. Ainda descendo, ouviu um petista amigo dizer "fiquem mais, hoje é festa, dia de comemorar o novo presidente". Marisa, muito preocupada, ficou vermelha e disse ao marido o que a estava deixando tão apreensiva: "Bem, vamo embora porque os menino tão sem chave". E foi assim que a festa acabou, numa noite de domingo, durante o Fantástico.

Sunday, October 15, 2006

Quase profissional

Eu bebo há 14 anos _desde o 13, portanto. Mas só aos 15 eu passei mal pela primeira vez. Tomei, sei lá, três copos de chope desse de serpentina alugada e vomitei. Me deram água, duas chocolícias e eu fui para cama. Revisitei essa cena outras vezes até os 18/19 anos, quando comecei a beber quase profissionalmente.
Então, eu sei até quanto agüento beber, sei quando estou prestes a passar mal e por qual motivo. Mas eu bebo bastante. E há muitos anos não passo mal. Eu bebo todo dia faz muito tempo. Acho que neste ano fiquei umas três ou quatro noites sem beber nada. Eu bebo em casa. Eu desmaio de sono, mas não passo mal.
Mas, mesmo bebendo sempre e bastante, eu decidi que iria tomar mais ainda naquele dia porque tinha trabalhado 20 dias direto, porque minha história de amor não tinha solução e por causa de um outro motivo.
Fui num lugar muito pequeno, muito quente e muito cheio. Eu, muito sabida, me liguei na hora quando, mesmo sem ter bebido muito, comecei a perder os movimentos, enxergar sem nitidez e sentir faltar o ar. A minha pressão vai cair. Fui para uma área ao ar livre, com dois amigos, para melhorar. Tudo muito consciente. Até eu quase desmaiar. Devo ter perdido a cor dos lábios, porque me sentia pálida, sem sangue, suava frio. Uma tradicional queda de pressão. Meus amigos me ajudaram, fui melhorando, melhorando, a ponto de ver um careca raspado de camiseta branca enfiar um punhado de sal na minha boca e dar broncas nos meus amigos por me deixarem beber tanto.
Sim, um estranho se intrometeu no meu porre. Numa noite de sábado, num lugar de amantes de rock.
Como sou meio egocêntrica, achei que era um homem dando em cima de mim. Depois, vi que era um ser humano superpreocupado mesmo. E foi achando isso que melhorei de vez, bebi água e voltei para pista. Meio seqüelada, mas sã. Sempre na água, voltei a dançar, cantei, tava tudo bem. Quase profissional. Eu estava sóbria agora.
Uns 40 minutos depois, já dançando de mãos para o alto na pista, sou cutucada e me entregam um cartão. Era o careca raspado de camiseta branca. Peguei o cartão, ele virou as costas. Rá! Eu falei que ele estava dando em cima de mim _agora me deixou o cartão de visita e vai torcer para eu ligar. Eu sabia!
Como a minha história de amor não tem solução, fui ver o que tinha no cartão. Iluminei com o celular e leio "Carlos" alguma coisa. A firma: "C.A.E.". Eu preciso de mais luz. Aproximo mais o celular do cartão. "Centro de Atendimento e Encaminhamento a Quimiodependência - Álcool e Outras Drogas." Era só o que me faltava _um estranho me sugerir tratamento aos 27 anos porque a minha pressão caiu num bar, num sábado à noite, num lugar quente e lotado, no dia em que descobri que minha história de amor não tem solução.

Saturday, October 14, 2006

A gasolina vai subir

As privatizações não assustam a classe média tucana _elas são o terror da esquerda raiz, os que foram pro lado da Heloísa Helena no primeiro turno, os que não votam em patrão. Para os tucanos, privatizar é o negócio: desonera o Estado e ainda impede petistas ("essa raça") de lotar as estatais de companheiros.
O Bolsa Família não atrai a classe média com seus benefícios de até R$ 95. Aliás, a classe média não gosta do BF. Não mesmo. Ela tem inveja da transferência de renda que não vai para ela.
E é então que falta ao presidente Lollo um discurso eficaz para atrair o voto dessa gente, especialmente os que estão em São Paulo e no Sul do país. A reforma tributária _sim, a classe média não é alta porque paga os impostos_ seria um bom motivo para Lollo convencer os que estão esmagados entre os ricos e os pobres a votar nele. Mas ela não vai rolar. Sorry, periferia.
Mas como os boatos são a sensação deste segundo turno, acusa o PSDB, tem um que vem tirando loucamente votos de Alckmin para Lollo. É olhar bem na cara daquele tucano e dizer: com o Alckmin, a gasolina vai subir. Pronto, o pânico está instalado. Porque na classe média e em parte da alta, aquela que acabou de ascender e lotou a garagem de carros importados, o medo mesmo é de a gasolina subir. Eu arriscaria dizer que mais até do que a alta do dólar.
Sugiro então ao Marco Aurélio Garcia que diga ao Lollo para substituir o papo de privatizações e da venda da Amazônia (bela tentativa, aliás) pela alta da gasolina. Dá até para achar algum texto do Nakano dizendo que vai dobrar a Cide, sei lá. E a certeza da vitória no dia 29 virá.

Friday, October 13, 2006

Os suspiros

Minha nova obsessão: saber exatamente o significado das palavras. Não palavras que eu desconheço _palavras do dia-a-dia, as banais. É conferir no dicionário eletrônico se "suspiro" tem um significado bom ou ruim. Os dois. Mas a definição ruim vem primeiro: "respiração entrecortada e mais ou menos demorada, produzida por desgosto ou por incômodo físico". Não era isso o que eu queria dizer quando pensei em mandar para ele algo sobre "suspiro". Mas os bons significados estão lá:

2. Desejo ardente; ânsia, cobiça. 3. Som doce e melancólico. 4. Gemido, lamento, ai. 5. Gemido amoroso.

Por que o "incômodo físico" vem antes de "gemido amoroso"?