choque de gestão

Saturday, November 25, 2006

Sábado sem mudança

Eu não quero mais ficar aqui, mas estou. Mas será por pouco tempo, tem de ser. Descontente agora, mas ainda desconfiada de mudanças: pode ser muito bom ou pode ser muito sofrido. Desde 2002, me mudei algumas vezes _Teodoro Sampaio, Saint Hilaire, Ministro Rocha Azevedo, um pouco de Apiacás, de volta para Aluísio de Azevedo.

Uma das mudanças mais felizes foi a ida da Teodoro para a Saint Hilaire, um enorme passo. Ainda me lembro do dia em que ouvi o pedido, a pergunta e a declaração. Ainda não havia medo naquela época. Em seguida, meses realmente felizes e de novidade, dignos de um bom começo. As tardes de sábado com sol eram preguiçosas, musicadas. As noites de domingo passavam longe do "Fantástico": os amigos vinham e riam e bebiam. Mas acabou, enchi as caixas e fui embora.

Voltei a apreciá-las _as tardes de sábado_ no pouco que fiquei na Apiacás. Aquelas janelas faziam qualquer tarde parecer tranqüila e silenciosa. O vento entrava, passava por cima dos nossos corpos desprotegidos e nos refrescava quando era preciso refrescar. Era difícil levantar; igualmente difícil deixar as janelas e ir embora. Mas fomos.

Agora estou sem aproveitá-las tanto, as tardes de sábado. Muito sono, pouca privacidade, quase nenhuma companhia. Os amigos trabalham, dormem, namoram. Acho que é por isso que voltei ao cinema. Apesar da preguiça, da fila, da espera e etc., é um bom refúgio para os solteiros e suas tardes supostamente entediantes.

Janelas e vento, eu os terei. Também será um começo _e um enorme passo. Os corpos? Talvez não existam mais corpos desprotegidos. Estão todos blindados agora. E distantes (ainda que tão próximos).

Friday, November 17, 2006

Dê tempo ao tempo

O tempo passa,
mas eu quero
que o tempo
volte lá atrás.

Quando ainda
dava tempo
de fazer tudo
bem diferente.

Quando o que
a gente mais
queria era que
o tempo parasse.

Monday, November 13, 2006

Não-acertos

De novo aquela sensação estranha, como se os órgãos estivessem sendo esmagados, apertados, uma dor que não é dor, que não sei dizer de onde vem. E é ela que me faz acordar cedo quando há ainda muito sono. A cabeça cheia _os detalhes, os papéis, o dinheiro, as conversas, as risadas, as palavras, a mágoa e a esperança. Tudo junto, e eu agüento. Eu prefiro ter mágoa a ter raiva.

Eu não sei, mas desconfio que a esperança é o pior sentimento do mundo, o mais traiçoeiro. (E essa palavra é até meio cafona, mas é a que se encaixa, porque está entre expectativa e fé.) Mas (quase) toda a angústia vem daí: eu sempre tenho esperança.

Eu não me arrependo, mas também tenho medo, muito medo, e também não quero mais errar. Só é muito triste ver o quanto foi dito em vão, quanta esperança foi desperdiçada lá atrás. E é horrível o seu esforço extra para sentir o meu cheiro quando me cumprimenta, sempre encostando os dedos no meu cabelo. Não, não faz isso, porque é jogar na minha cara todo o meu fracasso.

Friday, November 10, 2006

Happy New Year

Passar o Natal com a mãe e o Ano Novo com pai? A mãe faz questão do Natal. O pai, sem família, fica triste quando os filhos vão lá pra longe, 450 km de São Paulo. Ele nunca liga. Mas reclama sempre que os filhos, lá, se esquecem dele. Ah, sim, os filhos são pequenos, têm 10 e 6 anos. Findo o Natal, eles vão encontrar o pai, com alguma família postiça, alguma proposta feliz, mas que nem sempre é _e o pai sabe disso. No ano que vem, tudo de novo: a pergunta, as não-ligações, as famílias tristes.

(...)

Passar o Natal com a mãe e o Ano Novo com o namorado? E o pai? O pai tem outra família já. Os filhos também cresceram, têm agora 15 e 11 anos. A mesma viagem, o mesmo calor insuportável, a mesma reclamação. Mas, agora, a promessa é que o Ano Novo será feliz, ao lado do namorado e sua família. A culpa por trocar o pai pela mãe é substituída por trocar uma família que é sua _ou quer ser_ por uma desconhecida. "Só porque eles vão para a praia." Não, não é isso: só porque é a primeira paixão. O pai e mãe não entendem.

(...)

Passar o Natal trabalhando e folgar no Ano Novo? E a mãe? E o pai? E o namorado? A mãe não desiste e transfere o Natal para a sua casa em São Paulo. Os filhos, 20 e 16 agora, não têm desculpa. Passam a ceia com a mãe e sua família minimamente feliz. O pai já não liga mais que os filhos não ligam. Ele simplesmente não liga mais. O namorado, outro, ganhou o Ano Novo ao lado da filha daqueles pais complicados. Em novembro, ele já fazia pressão para a viagem em casal. Ganhou os cincos dias de folga dela. Alguém ficou feliz.

(...)

Passar o Natal de folga e o Ano Novo trabalhando? A mãe vai ficar feliz, mesmo sem saber se a filha vai dedicar os dias a ela. Vai encomendar em novembro os pães da rabanada que a filha adora. O pai liga, mas já não espera nada dos filhos, 27 e 23. Não existe nenhum namorado. Mas há amigos em pencas, com suas taças e suas piadas prontas para fazer a noite do Ano Novo feliz. Nem mãe, nem pai, nem namorado, nem amigos. Fora a mãe, ninguém vai ficar feliz. Muito menos ela.

Thursday, November 09, 2006

Prioridades

Eu careço de tanta coisa, mas insisto em listar no topo das prioridades um óculos de sol absoluto e definitivo. Preciso de um que a parte de baixo não encoste na minha saliente maçã do rosto quando eu sorrir e que a parte de cima não encubra as minhas sobrancelhas. Que a lente seja preta, bem escura, e que ele seja com armação de massa, e não de metal. E isso é muito difícil de achar. E, como eu quase já fiquei cega usando um óculos chinfrim, de R$ 10, quero um de qualidade internacional, ISO 9000.

Bom, mas mesmo sendo meu desejo #1, vou ficar me devendo o tal óculos de sol absoluto. É porque o restante da lista é mais urgente agora. Eu preciso pensar em móveis, eletrodomésticos e periféricos. (E justamente quando estava pensando nessas coisas e escrevendo isso recebi uma notícia incrível do meu querido ex-marido, que resolveu ser legal e me dar coisas que um dia foram da nossa casa, como o DVD e a caixa de ferramentas que ganhei do meu estimado padrasto. Tá, é porque ele vai casar. Mas eu não tenho pudores e vou aceitar feliz!)

Diante da grandiosidade do fato que está prestes a acontecer na minha vida, preciso me concentrar nos itens da lista que não são óculos, roupas e demais supérfluos. Tenho que ter dedicação total à minha futura casa, que vai ser mini, mas vai ser minha, só minha. E eu preciso calcular tudo bonitinho, para ela ficar confortável. E eu só tenho cabeça para pensar nisso agora.

Já visualizei todos os detalhes, dos lustres às toalhas de banho, minha pequena obsessão. Eu tenho TOC com tolhas de banho _elas precisam ser grandes e boas e limpas. E eu tenho aflição de dividir toalhas de rosto com outrem, mesmo que elas sejam íntimas. E tem outra coisa: também me angustia dividir o cesto de roupas sujas, misturar peças de alheios com as minhas. E é por essas coisas _e por outras_ que estou indo morar sozinha. Será a primeira vez que farei tudo isso sem nenhum tipo de par e, preciso dizer, estou adorando este momento de autonomia total.

(Este post ficou meio histérico, mas é parte fundamental do choque de gestão!)

Monday, November 06, 2006

Embarque e desembarque

Se fosse por você, eu ficaria naquele canto para sempre _sentada no chão, encolhida, sem espaço, braços em cima das pernas dobradas, a cabeça apoiada neles, sem conseguir me mexer. Você, em pé, me olhava lá em baixo, pequena, quase acanhada. Eu erguia a cabeça para ver você maior, tão grande a ponto de me esmagar com seus pés. Eu só ia me levantar se você me estendesse a mão. Mas, não, você nunca quis. No fundo, você sempre me gostou pequena. E eu fui ficando cada vez menor só para te agradar.

***

Você não faz questão que eu fique. Quer apenas que eu esteja aqui para te ouvir, te olhar e alimentar toda a sua vaidade. Qualquer pessoa cabe nesse canto que você reservou para mim. Eu até ficaria _se quisesse. Mas, agora, eu prefiro ir embora. Levantar sem ajuda e sair. Às vezes, saio mais cedo do que gostaria, tudo meio apressado, cabelo desarrumado. Mas a sensação depois é boa. Só nós sabemos. Isso, de partir, não é ruim; ruim é não ter de quem se despedir. Pior do que não ter para quem voltar.

Wednesday, November 01, 2006

Transformação

Sem certezas, que elas duram pouco. Sem ansiedades, que elas fazem mal à saúde. É durmir uma noite toda ou não durmi-la por escolha. Sim, escolha. Eu me retiro de alguns lugares por escolha. A sucessão, aliada à evolução, me agrada. Me diverte. Me excita. Só é possível ser mulher ao lado de um homem. A política é um acessório. Eu repito a sua frase, e você me diz uma nova. O que vamos beber?