Em algum dia entre 27 de outubro de 2002 e 1º de janeiro de 2003, Lollo decidiu que era hora de uma comemoração mais parecida com ele, o novo presidente, o presidente do povo. Afinal, depois de três eleições frustradas, ele não queria que a festa fosse só aquela garrafa de Romanée-Conti, R$ 8.500 à época.
Lollo sugeriu, então, que queria uma festa a seu modo, com a sua verdadeira turma, num lugar que fosse a sua cara. E foi assim mesmo que os amigos organizaram o churrasco. Com boa carne (não está confirmado se Lorenzetti já era o churrasqueiro informal que se tornou no Torto), boas bebidas _não mais do que cerveja, cachaça e refrigerante_ e boa companhia. Foram todos: petistas, sindicalistas e abecedistas, que, corretamente, encheram o eleito de presentes. Era o Partido dos Trabalhadores no Poder, enfim.
Marcado para um domingo, ali mesmo, em São Bernardo do Campo, o encontro pró-Lollo atraiu, obviamente, a atração dos jornalistas, incluindo os da mídia golpista, que naqueles meses de transição tentavam não deixar nenhum passo do presidente sem ser noticiado.
Churrasco, com os amigos, no ABC eram ótimos motivos para passar o dia na porta do sobrado que abrigava o homem. Aliás, muito melhor do que ficar na frente do prédio dele, na vizinhança.
E lá ficaram, sob sol e chuva, durante algumas boas horas. Até que algum petista, muito sensibilizado, permitiu que os pegajosos entrassem no sobrado. O combinado: sem câmeras, bloquinhos e gravadores, poderiam ficar no térreo, um andar abaixo de onde estava o homem. Aceito. Como o futuro chefe da nação, beberam, comeram e até cantaram versos do Zeca Pagodinho que rolava lá em cima. Eram as nossas fontes no poder. Enfim.
Com tanta festa, quase perderam quando, horas e horas de churrasco depois, Lollo apontou no topo da escada rumo ao térreo. Vermelho, suado, alegre. Feliz da vida, exibia no próprio corpo alguns dos presentes que havia ganho: uma camiseta da seleção (oficial), um chapéu de vaqueiro (oficial) e uma bola de futebol (oficial) debaixo do braço direito. Descendo as escadas com a precisão de um trapezista, foi acompanhado pela primeira-dama eleita, Marisa Letícia, que vinha logo atrás.
Muito feliz, mas muito preocupada, Marisa ainda aconselhou o marido a deixar a bola lá mesmo e se apoiar no corrimão. "Não, eu vou levar." Marisa nada falou. Ainda descendo, ouviu um petista amigo dizer "fiquem mais, hoje é festa, dia de comemorar o novo presidente". Marisa, muito preocupada, ficou vermelha e disse ao marido o que a estava deixando tão apreensiva: "Bem, vamo embora porque os menino tão sem chave". E foi assim que a festa acabou, numa noite de domingo, durante o Fantástico.