choque de gestão

Sunday, October 22, 2006

O concreto e o incerto

Hoje não tem política. Eu nunca prometi que aqui seria um espaço só sobre política. Tanto é que o outro nome pensado era "política com champanhe", a combinação ideal para uma noite agradável. Então, em vez de política, decidi me apresentar. Sou uma mulher de 27 anos. Eu ia escrever uma "menina". É que eu tou bem na transição, acho. E minha analista acha que preciso me "assumir como mulher, sair da posição de menina". Eu sempre achei feio pessoas que começam frases com "minha analista acha...". Mas ela acha. E ouvi isso de outra pessoa. Então, sou uma mulher. Além da idade, a única outra informação concreta que posso dizer é que eu trabalho. Fora a idade e o trabalho, tudo está incerto. Eu trabalho na editoria de política de um grande jornal. No começo, eu achava isso o máximo. Ontem mesmo um amigo de um amigo disse na mesa que nós, de lá, não tínhamos noção de como isso era importante. Bom, naquela mesa, ninguém mais acha tão genial assim. Eu trabalho muito, por muitas horas, por muitos dias e ganho mal. Fora outras coisas, digamos, ideológicas. Eu trabalho lá faz quatro anos e meio. Uma vida. Gosto muito de política, dos PMDBs, dos escândalos, mas detesto índios e quilombolas. Já namorei duas pessoas lá dentro, entre outros flertes. Hoje eu não namoro ninguém, nem lá e nem fora de lá. Estou solteira pela primeira vez depois de adulta. Tá, depois dos 20 anos. Eu já fui casada uma vez. Durou três anos. Não foi horrível. Só no final. Eu comecei a fazer análise para conseguir me separar. Mas aí eu conheci um menino e me separei rapidinho. E ficamos um tempo namorando, quase moramos juntos. Mas também nos separamos. Aquela coisa: levar as roupas embora, chorar, separar os CDs, os livros, as lembranças, os amigos... De novo. Foi bem triste. Mas está passando. O meu chefe, na minha primeira separação, me disse que o tempo era fabuloso nessas horas. É verdade. Os meses vão indo e vão levando as coisas pro passado. É mágico mesmo. Eu não tenho namorado, mas eu considero ter os melhores amigos do país. Não é exagero. Porque eles são cariocas, cearenses, paulistas e paulistanos. Meu núcleo duro é formado por dez amigos. Nesse bolo, há amigos antigos, do tempo de colégio, e outros que conheci recentemente, de uns dois anos para cá. Dentro do núcleo duro, tem o núcleo político, que são os amigos que sempre falam de política. Todos nós votamos no Lula. Votamos e votaremos no domingo. A gente não acha que o Lula é inocente, mas a gente vota nele mesmo assim. É que, acima de tudo, a gente não vai com a cara do PSDB. Tem também o núcleo dançante, que tem alguns membros do núcleo político. São os que sempre saem para dançar e conhecem as músicas novas, novíssimas. A gente tem ido muito ao Milo. Lá é legal, dá para dançar e cantar todas as músicas sem gastar muito. Tenho muitas histórias de lá. Fora o Milo, eu vou muito aos bares. Tem fases de Filial, Sujinho, Mercearia, Exquisito e outros. Eu tenho bebido muito ultimamente. Acho que é por causa da segunda separação. É que eu passei a ter insônia e só consigo dormir bêbada. Eu também gosto muito de comer. Bem, de preferência. Como eu como pouco em casa agora, eu tenho ido a muitos restaurantes. Fui a uns franceses ultimamente, Brasserie Paulista, Paris 6, Lola Bistrô e La Tartine. No almoço, eu como fora também, ali perto do grande jornal. Mas não é nada espetacular. Vale a pena por causa das conversas com amigos do núcleo duro. Além de beber, eu tenho outros dois minivícios. Mas nada grave. Eu tenho família. Ela é um pouco estranha, meus pais são separados e não se falam, eu tenho alguns irmãos por aí, minha mãe vota no Alckmin, meu pai já se casou quatro vezes, eles não sabem direito como é o meu trabalho. Mas nos damos bem, com algum esforço. Acho que é sempre assim. Em geral, sou bem-humorada e simpática. Em geral. Mas eu sou muito específica, diz uma amiga, a melhor. Eu gosto mais de quem tem humor qualificado. E gosto menos de pessoas politicamente corretas, que são, quase sempre, contraditórias e chatas. É que eu não sou politicamente correta. Mas não faço maldades. Sou uma boa cidadã, não jogo lixo na rua, respeito as pessoas, os pedestres, os idosos, as filas. São poucas as coisas de que não gosto fortemente. Gatos e hippies são duas delas. Tem muita gente que não vai com a minha cara, por variados motivos. Quase sempre quem não gosta de mim é correspondido, é aquela coisa de não bater, sabe? Desimportante, considerando que tenho os melhores amigos do país. Isso também é concreto, fora a idade e o trabalho. O resto é totalmente incerto agora.

4 Comments:

At 12:07 AM, Blogger L. said...

meu bem, você é a mais específica do país.

 
At 6:26 AM, Blogger Bernardo Esteves said...

Que delícia te ler, bem-vinda!

Gosto mais quando você não fala de política. Os textos políticos são ótimos também, mas fazem parte de uma realidade um tanto mais distante agora...

Fiz várias caras lendo o relato do porre na discoteca, ali embaixo... Vou voltar pra reler este também.

 
At 6:30 AM, Blogger Bernardo Esteves said...

Me passa depois o caminho das pedras pra colocar o contador de visitas!

 
At 5:57 PM, Blogger Geeks da Política said...

O verdadeiro choque de gestão é saber prioridades, ser inteligente caótica e metódica ao mesmo tempo.
Não te troco.

 

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